(Ao receber o título de "Cidadão Emérito" de São Paulo, em 12 de novembro de 1964)
Oração à Cidade de São Paulo
Emérita cidade de São Paulo,
Vosso princípio fez-se o meu princípio!
Armaram-me esses arcos ancestrais
Vossas penas formaram minhas penas,
Meu vôo, meus cocares guaianases!
Vosso colégio batizou-me um dia,
E Anchieta colocou em minha fronte
O sal dos oceanos da poesia.
E fui muro de taipas guarnecendo
O crepitar de fogos no silêncio;
Ah! Silêncios primeiros inspirando
O amor em madrugadas mamelucas!
Aí flechas, arcabuzes, escopetas,
Tingindo de vermelho a tarde antiga!
"Caminho velho do mar",
Trazei meus passos de volta!
Oh! "Rua de Santo Antônio",
Casai São Paulo com a glória!
Rua de “Martim Afonso”,
guiai-nos na eternidade!
Tabatinguera, parai
Em vossos dias ousados!
Sinais de meu São Paulo, despertai
Aqueles que morreram em beleza!
Bronzes da Sé, de São Bento,
dos Remédios, São Gonçalo,
Oh! dobres de São Francisco,
Orações da Boa morte,
Preces da luz, evocai
A saga de Manuel Preto,
A febre de Fernão Dias,
As lutas do Pai Pirá,
Os martírios do Anhanguera,
As monções flutuando em sangue,
O verde das descobertas,
E os gibões que se encantam
Na mata Virgem do tempo!
Evocai em vossos dobres
Aqueles que não chegaram
Dos nordestes, holandeses,
Dos litorais de corsários;
Dos paulistas, que semearam
Com rasgos da valentia,
Campos do sul e do oeste,
As terras do Paraguai,
O túnel, Vila queimada,
E o ardor de Monte Castelo!
Emérita cidade de São Paulo!
Taba ancestral, arraial sertanista,
Burgo estudante, província menina,
Rosa de imigração, rosa cabocla,
Profecia de Anchieta, luz de prece
De Frei Galvão; Emérita cidade,
Guardai-nos dos momentos de fraqueza!
Que neste paço o passo seja dado
Rumo ao porvir, às margens do amanhã;
E das raças, dos credos e das classes;
De tudo que se irmana no planalto,
Nasça, um canto de amor à nova aurora,
Ao mundo novo, ao homem novo, ao chão
Novo em sua alegria em sua paz.
Emérita cidade de São Paulo,
Mãe branca, mãe indígena, mãe preta,
Velai por nós!