Se todos os homens despissem suas fantasias, ninguém se reconheceria.
A verdade não cabe nos livros – está nos livros, no papel que foi celulose, na celulose que foi árvore, na árvore que foi semente, na semente que foi amor.
É preciso que nos renovemos diariamente. Os hábitos e as idéias velhas tornam-se doenças.
Se escrevesse um poema neste instante, escreveria uma árvore. Deixaria meu sangue circular em sua seiva, e os pássaros fazerem ninho com palavras de paina.
Não somos um só. Somos múltiplos em nossas vidas e em nossas mortes. Encruzilhadas entre o passado e o futuro, sentimos em torno de nós os rostos vazios daqueles que se foram, daqueles que virão.
É possível que o sol, os planetas e o universo sejam apenas átomos de uma pedra colorida que um deus jovem escolhe entre outras pedras e atira alegremente na superfície calma de um lago...
No sonho, somos visitados por nós mesmos. O arrepio é o código do mistério que nos rodeia.
Não devemos nos habituar com a vida. A segunda natureza rouba-nos o sentido da primeira.
Somos também invisíveis, e apenas pressentidos por outros seres que vivem ao nosso lado, em outra dimensão, com seus amores e suas inquietações.
Bairro, lua e serenata tocando em meus sentidos. Onde os amigos mortos e as horas de luz que não regressam?
Onde os quintais murados de silêncio, e as pitangueiras manchando de vermelho os lábios da manhã?
Olhou a noite, a lua e as estrelas e notou que outra noite, outra lua, outras estrelas surgiam das sombras de seu ser.
Tocou a casca rugosa de uma árvore e foi possuído de pensamentos verdes.
Abro a janela e colho, com ternura, o minuto que passa.
A bondade é uma face da beleza. Em nosso barco, que navega o infinito, a caridade transforma os remos em asas.
Há os que ouvem sinfonias pastorais, há os que ouvem a música dos rios fugitivos. Eu ouço unicamente o coração de minha amada.
Nossos mortos estão presentes em nós. Somos sua carne e seu espírito. Na hereditariedade o passado se faz futuro.
Os peregrinos partem para uma viagem sem regresso. No cais, nossa solidão é maior do que o mar.
Passamos uma época da vida colecionando emoções; a outra, colecionando saudades.
A criatura absurda afirmava: - “Não sou nem aquilo que vocês imaginam, nem aquilo que julgo ser; nascerei dentro de um século na alma de meus netos”.
No último andar do arranha-céu, os operários são nuvens.
Quem mata tempo, mata a si próprio.
Se as palavras perdessem seu valor, Pedro seria Francisco, Francisco seria cachoeira, e a cachoeira seria clamor que se afogava em si mesmo.
Tudo muito simples: Bom dia, boa noite, até nunca mais...
Só poeticamente conseguiremos explicar o mundo.
Criando, entendemos, numa fração de segundo, o cosmos.
O ritmo é a respiração de nosso pensamento.
Somos números e palavras com que os deuses calculam a eternidade e escrevem seus poemas de letras vivas.
Nada nos pertence. Mas a faculdade de pensar sobre isso, a quem pertenceria?
Fomos feitos de argila. Quando chove, nossas mãos tomam a forma de cântaros.
O mar aí está à tua espera. Despe-te de tuas roupagens de símbolos e deixa que as ondas renovem tuas praias secretas.
Não devemos nunca nos acostumar com a vida; isto seria a morte.
Os poetas estarão vestidos de ritmos, os pintores de tintas, os escultores de pedras e os músicos de sons na grande festa da noite.
Todos nós somos viajantes à espera da partida. Em nossa bagagem levaremos duas gravatas de ternura, uma camisa de nuvens, um lenço de despedidas e um sorriso de perdão.
Quis colocar num poema as águas do mar; de repente, sentiu os olhos salgados.
A Verdade pode estar num gesto, numa pedra, numa palavra, ou simplesmente em nenhum lugar.
Olhou para as mãos e sentiu que elas poderiam ter sido raízes ou asas, barbatanas ou cristais.
Somou conhecimentos, diminuiu vaidades, multiplicou perspectivas e dividiu tudo com a terra.
Desceu correndo pelas letras do alfabeto e chegou ao princípio do mundo.
Pensamos através de imagens para que os mortos entendam nossos sentimentos e folheiem nossas idéias, como um livro colorido.
Quando pensou em escrever suas memórias lembrou-se que era tão antigo como a terra.
Caminhamos, e, se no fim do caminho não existir mais nada, inventaremos o horizonte.
Não há nada mais fantástico do que a realidade. Essa realidade que está ao alcance de nossos sentidos e que nós trocamos pelo mais vazio dos sonhos.
Planto os dias como outrora os avós plantaram o café. Cada ano que passa sinto mais o frio das geadas.
Liberta-te, às vezes, de ti mesmo, esquece a prisão dos teus sentidos e deixa o sol caminhar através de tua alma.
Provavelmente, os habitantes de outros planetas vivem entre nós, na forma de pensamentos.
Mantinha longa correspondência com o mar. Um dia, tiveram uma rusga, e ele devolveu às ondas todas as lembranças que recebera em envelopes de madrepérola.
Os mesmos homens que adoraram ontem o bezerro de ouro adoram hoje os touros de aço.
Sobre a cidade de concreto, dedos azuis constroem a acidade das nuvens.
Em nossas fronteiras se encontram o infinitamente pequeno e o infinitamente grande. Tentamos explicar o mundo, mas é o mundo que nos explica.
É cômica a atitude que o homem toma para com o universo.
Antes de indagar se os outros planetas são habitados, deveria indagar se nossa terra é realmente habitada ou se somos apenas reflexos e imaginação de inteligências infinitas...
Se numa célula de nossos corpos houvesse seres pensantes, que idéia fariam eles de nosso todo?
Nada de cicerones para o pensamento, nada de caminhos enfeitados de paisagens pré-fabricadas. É preferível riscar um fósforo próprio na escuridão, do que viver num palácio iluminado por luzes alheias.
Mas, afinal de contas, qual o efêmero sentimento humano que merece ser eterno?
É preciso que se faça uma pausa no ritmo das máquinas para que se possa ouvir bater o coração do universo.
Milhões de relógios em milhões de pulsos condenam ao nada milhões de minutos inocentes.
Não sabemos porque chegamos, nem porque partimos. Sabemos que trazemos em nós o princípio e o fim das coisas.
Dentro de alguns anos, não haverá, no mundo, lugar para os mágicos e para os poetas.
As bibliotecas serão museus de curiosidades, onde nossos sentimentos ficarão expostos em vitrine coloridas.
A grande ditadura da técnica se aproxima para libertar os homens de certos problemas e escravizá-los a botões de comando.
Os poetas e os albatrozes se entendem através da linguagem do mar.
Não podemos amar a vida em teoria. É preciso que a amemos em seu corpo e em sua alma, que a procuremos em nós e no mundo. Se for preciso, morrer pela vida.
Não nos saturamos nunca das coisas, saturamo-nos de nós mesmos, daquilo que a vida tem de parecido conosco.
Nada de novo na face do planeta, somente as mesmas velhas idéias que se reencarnam em novos livros.
Deve haver algum tipo de conversa fora do diálogo. Os diálogos me dão a impressão de um monólogo porque todos os homens são, em sua essência mais íntima, uma coisa só.
Entendo a linguagem do silêncio. Aprendi seu significado com minhas professoras, as raízes.
Os heróis herdaram dos deuses a certeza da eternidade.
Pediu uma ligação telefônica para o passado. Queria ouvir, em seu coração, as vozes de mulheres que não conhecera.
Há os que partem e os que chegam. No escuro de suas malas de barro, colares de palavras brilham inutilmente.
À meia-noite, os ponteiros se amam.
O menino construiu, no fundo do quintal, um alçapão de prata e esperou, longamente, que o dia caísse nele.
Num pedaço de cântaro partido, a samaritana desenhou a fonte.
O maior dos requintes é fazer mal ao Mal.
Quando o ponto de partida se encontrar com o ponto final, a frase humana estará terminada.
Na lâmpada elétrica o pensamento das cachoeiras se transforma em luz.
Sim, as árvores são autênticas. Sabem que continuam através das sementes, e que suas folhas são palavras que não precisam de respostas.
Se pudesse anotar esta chuva em meu diário, molharia sempre o rosto em suas páginas.
Cada ser deve ter o seu paraíso depois da morte. No paraíso dos poetas, as palavras serão anjos.
Toda a natureza é uma forma de pensamento.
Somos a reencarnação de nossos antepassados. Um dia, ainda conseguiremos penetrar o enigma do tempo, despertando em nossa consciência milhares de consciências adormecidas, que trazemos em nós. Aí, poderemos dizer que passado e futuro pertencem ao presente.
Ninguém explicou às células porque elas nascem, vivem e morrem. Ninguém nos disse nada também.
O homem que passou a vida a matar o tempo foi condenado à eternidade...
Era um excêntrico, guardava numa caixa de prata, uma coleção de momentos raros.
O Mal existe para que os alquimistas possam transformá-lo em Bem.
No calendário eterno, os deuses marcam os dias com nossas vidas.
Sinto saudade de tudo aquilo que não verei.
- Grato, Senhor, pela lucidez deste momento!
O grande mal das criaturas é querer impor aos seus semelhantes a miopia de seus pontos de vista.
No dia em que os homens conseguirem retirar de si os andaimes de preconceitos e de temores que os sustentam, veremos se podem ou não permanecer de pé.
A vida só será descoberta através da coragem ou do amor; somente nesses dois estados de graça vemos com os próprios olhos.
Gostaria de saber até que ponto poderemos agüentar o calor e o frio da verdade.
Indago da tarde os segredos que ela encerra. O sol é uma resposta morrendo em meus sentidos.
Quando imaginamos, estamos criando algo que nasce, vive e morre como nós.
Das ânforas de carne a alma evapora.
Não deixo pegadas na pedra, deixo-as na areia da praia. Confio muito mais na memória do mar, do que na lembrança dos homens.
As rosas murcham como a vida dos homens. Guardemos nesta página a pétala de uma emoção.
O grande erro é dar aos deuses e aos anjos a limitação de nossos pensamentos.
Conheço a vida unicamente através dos sentidos e da intuição; chego, às vezes, a imaginar-me outro, unicamente para poder julgar sob novo prisma aquilo que me rodeia.
As pálpebras existem para que nossos olhos se habituem com a noite.
Às vezes nos cansamos de nós mesmos. Queremos ser apenas uma frase nascendo em outra alma.
Não sou triste nem alegre. Sou apenas o princípio que rola para o fim.
Não emprestemos a efêmeras virtudes as asas dos anjos.
Há homens que nasceram para viver em rebanhos, seguindo idéias de um guia, e há homens que vieram ao mundo para gritar aos ventos o nome de sua liberdade.
Em minhas fronteiras de carne, há o grito da água morrendo nos açudes.
A verdade está dentro e fora de nós. Alguns milímetros de pele não conseguem separar a sede do homem da fonte da vida.
Prefiro a angústia do desconhecido ao comodismo das certezas.
Se podemos construir uma casa de cimento e pedra, por que motivo não poderemos levantar, em outro plano, paredes de imagem e telhados de pensamentos?
Devemos pedir perdão aos animais que morreram para que sua carne alimentasse nossa dúvida.
Sei que somos todos, pedras, árvores, mares e estrelas, a consciência do cosmos.
Herdei de meus mortos a teimosia da vida.
Chamam de morte o encontro do homem consigo mesmo.
Crepúsculo em mim. A estrela da primeira certeza tarda a aparecer!
Devemos escrever o que somos, de tal maneira, com tamanha autenticidade, que, se alguém cravar um punhal em uma frase por nós sonhada, sinta nos dedos a cor de nosso sangue.
Penso em nosso nome verdadeiro, naquele nome segundo o qual as essências se reconhecem.
Ou tudo é real, ou tudo é fantástico. É tão estranho termos consciência do mistério como o próprio mistério em si.
O mar e o homem possuem ainda regiões completamente desconhecidas, habitadas por monstros e anjos que se transformam em sal e pensamento.
A alquimia é um processo mental. Em nós a faculdade de transformar o tempo em eternidade.
Ninguém se lembra de oferecer uma rosa ao dia que morre.
O homem dá um nome a todas as coisas que o rodeiam. Gostaria de saber o nome que essas coisas dão ao homem.
Lentamente vamos nos transformando naquilo que escrevemos.
Só entendemos aquilo que já existe em nós.
No sono, no amor e na morte o homem se identifica com o universo.
O tempo não passa nunca, somos nós que passamos por ele como viajantes apressados.
Feitos da mesma substância do universo, aprisionamos em nós anjos e demônios.
A mesma lei que rege o movimento dos astros, rege também a circulação de nosso sangue.
Nenhuma rosa morre inutilmente.
Sinto uma certa ternura por minhas angústias. Afinal elas fazem parte de minha família espiritual.
Cada ser é um calendário de dias marcados.
Viciamo-nos com a pressa de nossos dias, vertigem que protela o grande encontro do homem consigo próprio!
Há os que nasceram para dirigir e os que vieram ao mundo para serem dirigidos. Mandar e ser mandado representam duas grades da mesma prisão.
Olho a terra, guarda-roupa florido onde deixarei meus trajes de carne...
Todo homem traz no coração uma verdade que a inteligência não atinge.
Muitos homens combatem nos outros os espelhos de seus defeitos mais secretos.
Assim como existe a sabedoria dos iletrados, existe também a estupidez dos letrados.
Somos os fios com que as parcas tecem a tapeçaria que cobre paredes vazias.
Os relógios, os livros e as paredes tentam sempre aprisionar o infinito.
Como somos irreais dentro de nossa realidade absurda!
Há momentos que nem a vida, nem a morte nos satisfazem. Gostaríamos de inventar uma outra solução para nossos problemas.
No passado estão nossas raízes, mas ao futuro pertencem nossos olhos.
Num pedaço de cântaro partido repousa, às vezes, a alma de uma fonte...
Uns colecionam selos, outros moedas antigas, eu coleciono lembranças.
A vida é mulher misteriosa que, quanto mais amamos, mais nos foge.
Cada ser possui na caravela do corpo uma alma de navegador.
Nas águas verdes do lago as carpas são intuições.
Um dia ainda, assistiremos, em aparelhos de televisão, ao desfile do passado. A alegria e a tristeza dos séculos desaparecidos estão no ar à espera de quem as desencante.
Entrego a você este colar de minutos coloridos que passamos juntos.
Acredito que a essência dos homens entenda e se identifique com a essência do universo.
O poema nasce da alma do poeta e se completa no coração do leitor.
Um amigo me pergunta – “Então, o que há de novo”, e apenas respondo: - A Vida.
Não nasci para liderar nem para ser liderado. Respeito muito o meu próximo, para me tornar seu senhor ou seu escravo.
Quando posso, troco idéias com o mar e saio pela vida falando verde.
Sei de grandes poetas que jamais escreveram um único verso.
Todos nós representamos duas comédias, uma perante os outros, outra perante nós mesmos.
Herdei de meus antepassados a vontade de caminhar. Caminho léguas e léguas dentro de mim, empurrando meridianos de indecisão, fundando cidades impossíveis, atravessando pântanos de solidão, morrendo e renascendo nos contrafortes de uma cordilheira que me separa da verdade.
Dentro de pouco tempo, a máquina criará um homem capaz de escrever poemas.
Não sei quem sou, ignoro o nome real de minha essência, sei apenas que chove sobre o rosto que veste aquilo que penso...
Os diálogos, pouco a pouco, vão-se tornando monólogos, palavras que se repetem na sala dos espelhos.
Gosto das coisas sem sentido, da loucura das nuvens, da fúria das águas, das camélias que pecam pecados brancos.
Peço um minuto de silêncio pelas ilusões que morrem.
A terra nos ensinou que não chegamos nem partimos, simplesmente somos.
Os homens e as palavras se repetem.
Há uma conspiração dos covardes e dos estúpidos em nosso mundo, conspiração que visa a sufocar os raros momentos de altivez e de beleza ainda existentes no coração humano.
Somos bárbaros, com tecidos e preconceitos cobrindo nossa nudez.
Até mesmo no amor estamos sempre sós.
Os adultos são meninos comportados brincando de viver e de morrer.
Se todos os homens despissem suas fantasias, ninguém se reconheceria.
Sei que estamos de pé numa esquina do universo. Assobio uma velha melodia, e deixo a noite dar brilho em meus sapatos.
Bastaria a folha de uma árvore para deter um sábio; no entanto, florestas e florestas são cruzadas pela estupidez humana.
Não acredito que arte se faça em equipes. Não creio em grupos e plataformas. Respeito o artista que é uma ilha, e sorrio dos arquipélagos que se formam por temerem a solidão do mar.
Meus dedos tocam serenatas na noite de teus cabelos.
Outro dia senti-me evaporar. Cantei alto para chamar a vida de volta.
Uns nos roubam o bolso, outros a paciência, outros o tempo. Ladrões, ladrões e ladrões.
É curioso, mas há homens que têm o complexo de tapete, só se sentem bem quando pisados.
Há criaturas que, para subirem, descem tanto, que a vitória se transforma em derrota.
O silêncio tem olhos de veludo.
Estamos sempre fugindo de alguma coisa, do passado, da morte, da vida ou de nós mesmos...
Sou lúcido. Sinto-o na maneira com que vejo a tarde morrer, e penso que essa tarde poderia ser eu mesmo.
Somos ponte de carne ligando o ontem ao amanhã. Sobre a estrutura dos ossos caminha o tempo.
Não sei bem se existimos ou se pertencemos, apenas, à imaginação dos deuses.
Ignoramos sempre onde termina o nosso “eu”, e onde principiam os outros “eus” que trazemos em nós.
A palavra é minha raiz. Através dela recebo a seiva do cosmos.
Só os raros conseguem modificar as páginas do livro do destino.
Há sempre uma revolta nas águas do pântano, quando refletem o destino das nuvens.
Livros e homens têm o mesmo destino. Nascem, vivem, morrem e são esquecidos.
Escrevo como quem respira. Quando deixar de escrever, deixarei de respirar.
Parece que luto comigo mesmo há milênios. Sempre morrendo, sempre renascendo de minhas cinzas.
O mundo está pequeno. O homem gira sobre coordenadas, como um inseto em torno de uma luz.
É mais fácil ir à Lua do que ser bom.
Quando falamos da Natureza, imaginamos que ela fale uma linguagem diferente da nossa. Na verdade, os homens são a própria natureza que se espiritualiza.
As sereias estão em toda a parte atraindo, para o nada, o navegante que navega a própria alma.
Teus olhos são amarras que me prendem e, ao mesmo tempo, me falam de viagens impossíveis.
O tempo só existe em nossas veias.
Fecho os olhos e penso nas centenas de veias, artérias, nervos e músculos que se movimentaram para que isso pudesse acontecer.
Ao cumprimentarmos um amigo, estendemo-lhe também a vontade de estender a mão.
Penso na madeira desta mesa e deito-me à sombra da alma da floresta.
Nas nervuras de uma folha está escrito o destino de uma árvore.
Estranha alquimia do carbono... O lápis com que escrevemos a palavra “diamante” poderia significar o próprio diamante!
De todas as vidas que vivi, trouxe este amor ao Amor.
Nossa casa, nosso mundo e nosso sol bailarão como poeira no cosmos.
Guardo rancor de mim, daqueles momentos em que não morri por uma idéia, daqueles instantes em que me senti sobrevivente de meu próprio naufrágio.
Procuro-me tanto e me desconheço tanto. Tenho sede de meus horizontes fugidios e fome de uma verdade que não alcanço.
Amo a roda do movimento porque sei que a paz reside no eixo de seus raios atormentados.
Sinto-me hoje repetido. A mesma gravata, o mesmo terno, o mesmo cansaço, os mesmos caminhos chamando por meus passos.
Não condeno ninguém. Reconheço-me em todos aqueles que me rodeiam, e sinto que suas imperfeições são minhas também.
Não se deve permitir que um sentimento generoso murche em nossas mãos. Devemos ofertá-lo, como um rosa, ao irmão que sofre a nostalgia do perfume em sua alma.
É inútil procurar a Verdade nos livros. Ela está nas páginas da vida, nos capítulos do destino, nas frases silenciosas que trazemos dormindo numa tipografia de sombras.
As amarras são amarras até o dia em que descobrimos que as âncoras estão dando flor.
As grades estão abertas. Fujo de mim e invento um pássaro.
Não condeno ninguém. Reconheço-me em todos aqueles que me rodeiam, e sinto que suas imperfeições são minhas também.
Não se deve permitir que um sentimento generoso murche em nossas mãos. Devemos ofertá-lo, como um rosa, ao irmão que sofre a nostalgia do perfume em sua alma.
É inútil procurar a Verdade nos livros. Ela está nas páginas da vida, nos capítulos do destino, nas frases silenciosas que trazemos dormindo numa tipografia de sombras.
As amarras são amarras até o dia em que descobrimos que as âncoras estão dando flor.
As grades estão abertas. Fujo de mim e invento um pássaro.
Ruas de ontem, ruas de hoje, ruas de sempre. Deixo que, em meus beirais, andorinhas errantes se aninhem, e contemplo, através de minhas vidraças partidas, a vida passar.
Piso as pedras da rua sentindo que estou pisando memórias minerais.
Vontade de pensar com árvores e de me sentir desfolhar.
Em tudo, na vida que passa, na estrela que brilha, na ave que voa, na manhã que ri, encontro sempre um pouco de você.
Dia a dia, percebo que o círculo se fecha mais em torno de meus passos. Inútil vontade de partir, inútil vontade de ficar.
O cotidiano vai, pouco a pouco, infiltrando-se em nós. Sua umidade desenha em nossos pensamentos estranhas fantasmagorias, rostos de bolor que devoram nossos olhos, bocas de limo que mastigam nossas sensações, dedos de sombra que sufocam nossa vontade.
Pensar é descobrir a vida pelo avesso. Dispo o casaco que me cobre a alma e noto que ele está forrado de intuições.
Não nego, nem afirmo. Apenas procuro.
Somos todos operários da vida. Quando se fecha a fábrica de nossos corpos e as oficinas do sangue se coagulam, a morte nos contrata para suas indústrias de mistério...
Luto pelo futuro que não conhecerei; pelo amanhã que surgirá quando meus olhos forem noivos das raízes.
A garoa falou-me de coisas fora de moda, e meus passos fizeram serenatas.
Coloco as mãos nos bolsos de um sobretudo noturno. Três estrelas abotoam meu cansaço.
Não posso garantir a eternidade daquilo que sinto, daquilo que penso, daquilo que sou. Posso apenas garantir que minhas dúvidas são madrugadas inventando amores.
Enquanto os filósofos se embriagam com suas terminologias, a verdade brinca de roda com as crianças.
Realizo comigo mesmo as mais estranhas experiências. Já vivi em minha mente todas as formas de vida. Entendo as águas e o fogo, os dialetos vegetais e o instinto dos seres que se cobrem de peles e de plumas, de escamas e de gritos.
Às vezes, sentimos necessidade de ser tolos. Acreditamos em promessas, falamos de coisas simples e deixamos que o futuro leia nossas mãos.
Os velhos amigos estão ficando cada vez mais velhos... Noto isso sempre que ouço alguém falar de dias mortos, de noites que não voltam mais, de madrugadas perdidas nas ruas de ontem.
As fotografias estão ficando amarelas. Parece que o outono invadiu a alma dos retratos.
Tento me adaptar ao mundo e aos homens. Inutilmente procuro falar uma linguagem que não é a minha e sorrir um sorriso que pedi emprestado a um espelho sem reflexo.
Sei que a erosão devorou as terras da infância, sei que águas barrentas levaram para longe a voz dos mortos. Escrevo unicamente para que as sombras possam falar de novo.
Caminha com teus passos, com tua vontade e com tua coragem, que estarás desvendando teu destino, plasmando tuas forças, redescobrindo tua eternidade.
Os telefones estão tocando, os telefones querem dizer que os mortos de amanhã têm pressa de viver.
Sonhei com a velha casa da Vila Buarque. Em alguma outra dimensão ela permanece intacta, mais real do que eu que a evoco, mais autêntica do que todos nós que a traímos e a vendemos a um mundo que a destruiu.
Tiro de mim as vestes de carne, a capa de ferro, o terno de cálcio, a camisa de fósforo, a gravata de carbono...
Jogo pelas estradas os dados feitos de meus ossos; devolvo aos rios e aos mares a inquietação que corre em minhas veias, lego a meus antepassados minhas boas intenções, restituo aos livros aquilo que li e me preparo para partir.
O tempo goteja dias e dias, anos e anos. Nem os anjos pedreiros, nem os anjos encanadores, podem tirar de nossa alma a goteira que vara o teto sonhado.
Não há sistemas para explicar a vida. Assim como não podemos aprisionar a noite num quadro-negro, não conseguiremos conter o infinito no finito de nossas mentes.
Quando chove, nossas mãos se transformam em cântaros.
Velhos móveis são arrastados sobre o chão do céu. Só a cadeira de balanço das avozinhas mortas não faz barulho.
Penso, logo não existo. Se existisse não sentiria necessidade de me afirmar.
Nada de novo na superfície do planeta, nada de novo no coração do homem. O pião da terra gira solitário na calçada do universo, longe da fieira e da mão que o soltou.
Atiro à noite a chave de minha vida, e sinto que as portas se abrem de par em par, de estrela em estrela, de negação em negação.
A máquina jamais resolverá certos problemas do coração humano. A ternura não nasce de engrenagens, o amor não cabe em roldanas, a simpatia não cresce nos motores, a piedade não santifica as turbinas.
Meu pobre dicionário de emoções gastas e de frases sem sentido! A palavra rosa perdeu seu perfume e o amor é apenas um substantivo secando no armazém dos lugares-comuns.
Quando julgamos encontrar alguma coisa original, mais cedo ou mais tarde, descobrimos em suas costas a marca triste do papel carbono.
Os homens fogem para os bares, para o trabalho, para as crenças, para os livros, para o amor, os homens estão sempre fugindo.
Minha cidade amanheceu coberta de nuvens. Empino um pensamento colorido e deixo que um fio de idéias traga notícias do sol.
Abro um dicionário à procura da palavra esquecida e sinto que as palavras estão gastas como seres que já viveram muitas vidas.
Invento o mar, a nau, as velas e o vento. Embarco num pensamento e deixo a vida acontecer.
Todo o homem é uma verdade que mente.
Invento palavras de safira para teu colo de mármore.
Ah! os ladrões de nosso tempo... esses seres que metem os dedos importunos nas algibeiras de nossa alma e roubam-nos um tesouro de minutos e de horas que ninguém poderá devolver-nos...
Um dia, apresentarei nas fronteiras da sombra, meu passaporte estrelado.
A verdade pode estar mais na flor do que na mão que a colhe.
Há dois tipos de tédio. O tédio da estagnação e o tédio do movimento.
Não sei quem estabeleceu que o sorriso significaria contentamento, e que o pranto refletiria tristeza. Não sei quem criou o sim e o não, o aceno e o balançar de cabeça, sei apenas que escrevo sobre isso, colocando idéias dentro de palavras formadas por símbolos que me foram transmitidos.
O poeta deveria morrer com sua poesia e nunca sobreviver a ela.
Ah! esta erosão de dias e dias, cavando-nos por dentro e arrastando para muito longe a terra que pensamos...
Todo diálogo termina sempre em dois monólogos.
Só amando somos reais.
Em certos momentos, partir e chegar significam a mesma coisa.
A natureza se repete nos homens. Há os homens-pássaros, os homens-nuvens, os homens-pântanos, os homens-desertos.
Só amamos aquilo que já existe em nós.
O mundo é dos polichinelos e dos fantoches. Não penso nos bonecos, penso na mão invisível que os move.
Há criaturas tão distraídas, que só percebem que estão vivas na hora de morrer.
Era um homem excêntrico. Tinha ternura pelas pedras e pelos bichos. Deixava sempre que os pássaros fizessem ninho nas árvores que trazia na alma.
Não entendo os outros e não me entendo. Trago em mim tantas almas desencontradas que, às vezes, chego a sentir que a alma de certas pessoas me pertence também.
Singularmente sou plural. Meu eu é feito de muitos eus, minha solidão é sempre povoada de sombras que pesam em mim.
O homem faz parte do infinito. Uma gota de água jamais conseguirá desvendar o segredo do mar.
Leio em teus lábios a verdade de um sorriso.
Ah! a predestinação dos encontros casuais...
Marquei em encontro comigo mesmo e cheguei atrasado. Paciência... fica para a outra vida.
Sou aquilo que penso, e não aquilo que sou obrigado a ser.
Quando morre em nós a vontade de lutar, devemos acender quatro velas e rezar pela alma que partiu.
A vida moderna, pouco a pouco, vai tornando o homem uma pasta amorfa. Tantas mãos o manejam, tantas forças o dirigem, tantas fronteiras o impedem de caminhar, que o mundo toma o aspecto de um gigantesco moinho a produzir farinha humana.
Conheci alguém que se transformou em palavra unicamente para poder ser pronunciado pelos lábios de seu amor.
É espantoso como se fala mentira em nome da verdade.
É fascinante que o lodo possa imaginar uma camélia.
Toda a humanidade estaria condenada à morte se houvesse um tribunal para os crimes imaginários.
Não creio nas fugas geográficas. Nas selvas do Congo, nas estepes siberianas, nas planícies da Austrália, ou nas cordilheiras nevadas, levaremos sempre, na mochila, nossos fantasmas.
Senti que minhas dúvidas estavam dando flor.
Os minutos estão gastos de tanto percorrerem a corda dos relógios.
Pérolas são intuições do mar.
As estátuas estão com frio. Nas esquinas as ruas se abraçam.
Abro minha banca de poeta e recebo os clientes: o homem que matou o tempo, a mulher que roubou um sorriso, a estrela clandestina, o pássaro despejado de seu ninho de símbolos...
Julgo-me todos os dias, condeno-me todas as horas e deixo que a esperança me absolva sempre.
Não sei como a verdade não se cansou ainda de ser mentira.
Invento você de novo, você que o tempo não destrói, você que a vida vai transformando em poesia.
Renasço de minhas cinzas com a nostalgia do fogo que me queimou.
Um dia partiremos para nunca mais voltar. Aí então se dará a grande despedida que ensaiamos com pequenos adeuses.
A Terra é um laboratório onde os deuses ensaiam emoções. Nas provetas de carne, dedos transparentes misturam e combinam sensações.
O espanto ante o milagre de existir. A descoberta das mãos que dançam como raízes; dos cabelos crescendo como mato bravio; do coração que bate como um bicho prisioneiro.