Chegai de vosso desterro,
Tão amadas, tão amantes,
Que vos trago e vos aguardo
Na montanha de concreto,
Entre leões bandados de ouro
E caldeiras xadrezadas,
Entre merletas noturnas
E seis besantes de prata.
Chegai em campos de blau,
Com vossas flores de lis
E licornes galopantes,
Descei de torres feridas,
Das bordaduras vermelhas,
Da quaderna de crescentes,
Das vieiras em santor.
Chegai ó galgos de argento,
Pousai ó braços de azul!
No patamar da montanha
Deixo as águias renascer
Daquilo que em mim devoram
E que em fogo se transforma.
Aportai nosso desterro
Na quilha de vossos seios,
Ancorai com vossas tranças,
Vossos olhos de santelmo,
Astrolábio em mãos antigas,
Rosa dos ventos florindo
Na brisa de vossos rostos.
Chegai, apenas chegai,
Com falcões em vossos ombros
E palafréns encilhados
À espera de vosso sonho.
Vinde de longe, tão longe,

Ó grávidas de futuro,
Com façanhas navegando
No bojo de vossos ventres,
Com vida e morte soprando
Vossas pandas migrações!
Eleanor se faz ao mar,
Clotilde se faz ao céu,
Hildegarda cria a terra,
Dona Ufo aleita o tempo,
Tareja é ninho de reis,
Dona Sancha é de ouro e prata,
Ximena é castro ao luar,
Elvira se fez manhã,
Dona Violante é canção,
Alice é país de espelhos,
Margarida é voz de Deus!
Chegai de vosso desterro,
Tão amadas, tão amantes,
Dançai sobre cimitarras
Deixai florir as adagas
Que os mortos foram cravando
Na liça de vossos corpos;
Percorrei esses domínios
Que vossos reis e senhores
Só por vós desencantaram!
Chegai de vosso desterro,
Dos reinos que naufragaram,
Dos condados subterrâneos,
E vinde com vossos rios,
Vossas ilhas despovoadas,
Vossos torreões em ruínas,
Vossas fronteiras perdidas.
Trazei, amadas, trazei,
O espectro de vossos paços,
As cidades que embalastes,
Vossas testas coroadas,
Vossos regaços burgueses,
Vossas mãos de rude faina;
Vinde Constança tão morta,
Branca que a noite cobriu,
Petronilha desterrada,
Bartira dos meridianos,
Mécia-Uçu tecendo raças,
Suzana mãe de horizontes,
Gertrudes flor de tropeiro,
Donana livre de escravos

Leôncia matriz de olhos glaucos,
Sinharinha e seu rosário,
Elisa da casa-grande
Maria de argila e pranto!
Chegai senhoras do sangue,
Descei de vossos corcéis,
Do etéreo de vossos pousos,
Do marulhar das faluas
Ou do espectro das monções;
Vinde entre gládios e rocas,
Entre escudos e bandurras,
Entre lanças e candeias!
Chegai da noite das noites,
Ao troar das colubrinas,
Do túnel das escopetas
Ou da lua nas bateias,
De umas pontes levadiças
Ou das tabas ancestrais,
Do cafezal do oceano
Ou da espuma das geadas;
Chegai de vosso desterro
Aportai em vossa carne,
Enquanto o espólio do vento
E o testamento do mar,
Legarem a vosso neto
A vida que se reinventa
Na paixão de vossos homens!