Paulo Bomfim nos deixou sem chão no dia 7 de julho de 2019. Custou-nos admitir que sua hora havia chegado. Poderia ter nos honrado com sua presença marcante, por mais alguns anos.

Como é? O poeta Paulo Bomfim se foi? Como assim? Não acredito.

Quantos amigos estarrecidos e inconformados por não terem tido a oportunidade de estar com o poeta para se despedir, ou, pelo menos se preparar para pensar que nós, súditos, ficaríamos sem o Príncipe da poesia, Paulo Bomfim.

8 junho 2019 as 14 23 f1444Paulo Bomfim e Di Bonetti - 8 junho 2019 às 14:23 Uma queda, costelas quebradas, trincadas e a sucessão de acontecimentos... Febre, infecção, cálculo na vesícula, rim que parou, faz hemodiálise, para a hemodiálise por complicações cardíacas... Aguarda-se o fim. Mas, o poeta resiste, o rim volta a funcionar, a batalha é grande, 24 dias de luta e em nenhum deles o poeta desistiu. Jamais jogaria a toalha.

Estar presente, por vezes, 19 horas seguidas, ao seu lado, de mãos dadas pedindo clemência a todos os anjos amigos nos faz refletir que naquele leito de UTI não estava um senhorzinho de 92 anos, frágil e debilitado. Naquele espaço estava uma divindade. Essa era a essência do poeta Paulo Bomfim. Um ser iluminado que só fez agregar. Juntou pares e construiu muitas pontes entre afins. Quem teve o prazer de conhecê-lo foi privilegiado, quem pode conviver, foi certamente abençoado.

Sua sagacidade, sua finura, sua lucidez... Seu pensamento acelerado, veloz, sempre nos encantaram. Nada lhe escapulia, estava sempre vigilante, atento a tudo e a todos.

Desprendido das questões materiais, não acumulou riquezas, não se escravizou, nunca se deixou subornar, foi íntegro aos seus princípios e com gestos pontuais, quase anônimo, fez a diferença na vida de muitos.

Um ser admirável que sempre proferiu palavras certas para abrandar o coração dos amigos de convivência.

Inquieto, desassossegado, Paulo Bomfim era perseguido pelas lembranças e pelos pensamentos, principalmente os noturnos. Uma eterna luta com a companheira e cúmplice de vida toda, a insônia.

Foi meu mentor. Incentivou-me a escrita e com entusiasmo ouviu todos meus contos, fazendo delicadas observações que agregavam valor.

No último almoço, em grupo, 5 dias antes da queda, naquela disputada mesa, o poeta nos contou uma passagem da sua vida em 1954 e me incentivou a transformar em conto. Ainda na UTI, nos muitos momentos de lucidez, li esse sugerido conto para ele. Sorriu e comentou naquele gesto peculiar em que levantava a mão direita juntando o polegar com o dedo indicador – Está ótimo!

A partir de 2006, quando conheci Paulo Bomfim, no dia 28 de setembro, dois dias antes de seu aniversário de 80 anos, tornei-me amiga e fiel escudeira no seu reino. Participei da sua vida e da transformação do homem tecno fóbico em alguém interessado pelo novo linguajar cibernético. Convence-lo a me deixar fazer o seu site demorou 3 anos, e foi gratificante quando ao fim da tarde, ao telefone perguntava - quantas visitas?

Nossa convivência foi efetivamente de pura alegria e bom humor. Foram tantas fotografias em mais de uma década de convivência que talvez devesse transformar em livro para que todos possamos nos emocionar com fragmentos da vida desse Paulo Bom, Sem Fim, como já escreveu Hélcio Dallari Jr., em sua homenagem.

Quando Paulo concordou em me deixar fazer sua fotobiografia, perguntei quanto confiava? Ele disse 101%, então combinamos que ele só iria ver o livro impresso. E amou tanto, mas tanto, que externou ser juntamente com o INSÓLITA METRÓPOLE, organizado por Ana Luiza Martins, as duas obras que tinha maior apreço e que se complementavam. Que felicidade.

Ser eleita por ele para cuidar de seus escritos, sua obra, direitos autorais e seu site, é prerrogativa e responsabilidade. Ele confiava e sabia que podia.

Agradeço todos os dias por termos caminhado juntos na estrada da certeza, da generosidade, na estrada do amor, da compreensão, da alegria e do contentamento. Paulo Bomfim, você faz falta. É uma lacuna eterna. Embora o coração esteja experenciando, a única convicção que tenho é que você está bem.

Acredito que esteja rodeado de anjos sedentos de excelente poesia. Garanto que o céu está em plenitude.

Paulo Bomfim... Paulo saudade!