Na parede do apartamento ancorado na Rua Peixoto Gomide, cinco bandeirantes emergem do passado.

Os desenhos de Clóvis Graciano, tatuados de roteiros e martírios, voltam de périplos de assombro à procura dos pousos soterrados no tempo.

Magicamente, habitam meu “Armorial” que ilustraram em 1957.

Outros pintaram o bandeirismo, mas ninguém alcançou sua linguagem histórica e espiritual com a dramaticidade de Clóvis Graciano.

O tema, nas mãos do pintor, pulsa com febre das descobertas e delira em jornadas aos sertões do nunca mais.

Graciano, pintor e desenhista, retrata a alma de um povo com mártires ressurgidos das trincheiras de 32, músicos que tocam o azul do espaço, bailarinos intérpretes da música das marés e operários densos de porvir. Nele a leveza dogesto se casa com a descoberta do onírico engastado nas coisas simples.

Profundo conhecedor da história paulista, mergulha com o traço inovador no painel da alvorada de Piratininga, trazendo para o convívio de hoje o toque de nostalgia de grandezas perdidas nas furnas do olvido.

A genialidade do artista invoca heróis anônimos nascidos com perfil de epopéia.

Escrever sobre ele torna-se difícil, pois, impossível separar o artista do homem.

A originalidade de um confunde-se com a simplicidade de outro.

Foi dos seres mais autênticos que conheci. Nele se encarnam as virtudes pictóricas do Grupo Santa Helena e a fraternidade das madrugadas de outrora.

Sua casa era o coração do mundo, seu atelier a transfiguração desse universo.

Passando pela Praça Vilaboim ou pela Barra do Sahy, no litoral norte, tenho a nítida certeza que Clóvis me espera para brindarmos juntos a noite, ainda uma criança, que brinca dentro da moldura do Clubinho dos Artistas.