Fui à Ilha da Madeira à procura da “Ribeira da Janela”, onde a avó Maria nasceu.
Da pequena vila nada restou. Nem mesmo a primitiva igreja onde a parte ilhoa da família foi batizada.
A gula imobiliária acabou apagando a fisionomia secular do casario que se debruçava sobre o mar.
Da partida dos Gouveias, apenas a lembrança que se esgarça atacada pela mesma praga que destruiu parreirais empurrando velhos e crianças para o oceano onde embarcaram com ventos soprando em direção do Brasil.
Junto com os pais e os avós, chegaram as meninas assustadas diante daquele mundo onde tudo era diferente da paisagem que se descortina do alto da “Ribeira da Janela”.
Inutilmente correram pelos cafezais na procura de um carreador que fosse dar no oceano.
Vovó Maria e as irmãs Eugênia, que no futuro se casaria com Antônio Veludo, e a “Muda” que brilhava em seu silêncio, aprontando travessuras e dizendo através de gestos, coisas engraçadas, foram unidas, atravessando a vida lado a lado, solidárias na dor, na alegria e na saudade da ilha.
Com a morte de meu avô, que chega à fazenda agonizando, vítima de tocaia, para expirar em seus braços, minha avó se isolou em Cravinhos, entre bichos e árvores.
Já muito doente, quando ia ser internada no hospital em Ribeirão Preto, pressentindo o fim que se aproximava, vai até o fundo da chácara para se despedir de suas árvores.
Em silêncio, abraça a mangueira, as jaboticabeiras e as ameixeiras carregadas.
Encosta o rosto nos troncos, e diante de cada uma diz baixinho algumas palavras.
– Estou pronta para partir. Agradeci a minhas amigas, os frutos e a sombra que me deram e pedi que orassem por mim. Prece de árvore prepara o caminho de nosso retorno à terra!
Essa mulher feita de argila e pranto, foi minha avó Maria!