A primeira Biblioteca Infantil nasceu na Vila Buarque, no casarão da chácara do senador Rodolfo Miranda. O senador era casado com Aretusa Pompéia que deu nome ao bairro de Vila Pompéia, tia, se não me falha a memória, do professor Celso Neves que morou ali perto, e do procurador de justiça Manoel Otaviano Junqueira Filho, ambos freqüentadores dessa chácara de árvores antigas que à noite adormeciam sob a luz dos lampiões a gás, teimosos em sobreviver.
Em torno da educadora Lenira de Camargo Fracaroli, uma geração inquieta se familiarizou com os livros, e principiou a escrever.
Surge nessa época a “Voz da Infância”, jornalzinho que ainda hoje publica a colaboração dos jovens frequentadores da biblioteca.
Em suas páginas, nos fins da década de trinta e princípio dos anos 40, José Luís Pati, Cyro Pimentel, Paulo Vanzoline, Darcy Penteado, Moacyr Vaz Guimarães, César Lates, Paulo Sérgio Milliet, Ida Laura Therezinha e Thaís Camargo e eu, colocamos nossos primeiros poemas e contos.
Escrevíamos estimulados pela presença constante de Monteiro Lobato, Mário de Andrade, Carlos Lebeis, Thales de Andrade e Francisco Pati que iam conversar com os meninos escritores.
Dona Lenira foi a fada que colocou as primeiras letras em nossas mãos sôfregas de invenção. Pioneira, deixou em todos a semente que ainda hoje dá o fruto destas linhas.
De vez em quando, passos de peregrino ainda se dirigem para a chácara de Rodolfo Miranda. Reencontro-me na juventude que principia a escrever à sombra das mesmas árvores e do mesmo sonho.
Quando vou embora, olho para trás e sinto que Lenira Fracaroli acena para mim de uma alameda do “Sítio do Pica-pau Amarelo”.