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Em algum lugar do céu deve estar a “Seção de Achados e Perdidos”, com a certeza daqueles que se acharam definitivamente e com o desespero dos que se perderam para sempre. Nesse departamento altamente especializado haverá

também uma porção de sonhos e de ilusões desgarradas nas prateleiras de nuvens. Tudo o que perdemos um dia, sem saber onde e por que, ali será encontrado. Caminhando de surpresa em surpresa, de lembrança em lembrança,

iremos revendo pouco a pouco as coisas e os seres que fomos deixando pelo caminho.

Num canto descobriremos a primeira namorada de cabelos loiros que o tempo não manchou de branco, mais adiante um sorriso esquecido que voltará aos nossos lábios, noutro canto do imenso salão azul estarão as intenções nobres

que não chegaram a florir, o amigo que perdemos de vista, a desconhecida que cruzou por nós numa estação quando os trens que vão em direções contrárias passam lentos e tristes como despedidas.

Em algum lugar do céu deve estar também o local de todos os “procura-se”, a casa dos que não tem casa, o amor dos que passam pela vida sem amor, a estrela dos que caminham em noite escura, o porto daqueles que, de tanto

naufragar, passam a andar com as mãos caídas como âncoras.

Noutro ponto do céu serão devolvidos todos os penhores e todos os aluguéis.

E serão recompensados os que empenharam sua liberdade pelo bem do próximo e os que alugaram seus corpos e sua inteligência para que outros corpos e outras sensibilidades pudessem viver na paz do Senhor.

Em algum lugar do céu estarão as nuvens que pousarão como almas em nossa sede.

Para Aurélia Bandeira, na dimensão dos anjos.

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