Numa de minhas desgarradas pelo mundo, saindo de Nova York, fui ao México em busca de pirâmides e dos murais de Orozco, Siqueiros e Diego Rivera; propondo-me depois, a despencar pelo mapa da América do Sul.

A visita a Caracas valeria, se não fora por mais nada, para contemplar o Arco do Triunfo erguido para celebrar Bolívar e seus feitos. No monumento, entre os principais colaboradores do Libertador, encontro o nome do General Abreu Lima, mais lembrado na Venezuela do que no Brasil.

José Inácio de Abreu Lima nasceu em Pernambuco, em 6 de Abril de 1796, filho de José Inácio de Abreu Lima que, enviuvando, toma o hábito religioso e entra para a História com o nome de Padre Roma, dos próceres da revolução republicana de 1817.

Aprisionado na Bahia pelo Conde dos Arcos, é condenado à morte. Seu filho, o futuro General Abreu Lima, com pouco mais de vinte anos é obrigado a assistir o fuzilamento do pai.

Revoltado, parte para a Venezuela alistando-se na tropa de Bolívar e chega ao posto de Brigadeiro, através de promoções por bravura; tornando-se membro da Ordem Militar dos Libertadores da Venezuela, e é condecorado com o título de Libertador da Nova Granada.

Após o falecimento de seu ídolo, vai para os Estados Unidos, onde, ao saber da Abdicação de Pedro I, viaja para Portugal e se torna amigo do Imperador.

Por decisão da Assembléia Geral e sanção do Decreto de 28 de Outubro de 1832, obteve, retornando ao Brasil, o gozo dos direitos de cidadão brasileiro e de todos os títulos conquistados no estrangeiro.

Mesmo depois de morto, em Abril de 1869, não consegue encontrar paz em sua pátria.

Havendo se desentendido com o Bispo de Olinda, quando defendia a instituição do casamento civil, não pode ser sepultado em solo sagrado.

Autor de muitos livros entre os quais se destacam: a “Vida do General Simón Bolívar”, “Bosquejo histórico, político e literário do Império do Brasil”, “O Socialismo”, e “História Universal” em cinco tomos.

Na mesma ocasião em que lutava na Venezuela e na Colômbia, outro brasileiro, o poeta José Natividade Saldanha, vivia paralelamente uma vida que também está a pedir grande cineasta.

Filho do Padre João José de Saldanha Marinho e de Lourença da Cruz, descendente de escravos, forma-se em Leis em Coimbra em 1823. De volta ao Brasil é nomeado secretário da Junta que dirigia em Recife, em 1824, o movimento que proclamou a República do Equador. Secretário do Presidente Pais de Andrade, depois da tomada de Recife pelas tropas imperiais, foge para a Inglaterra, indo posteriormente para a França de onde consegue ser expulso como “perigoso elemento subversivo”. Segue para os Estados Unidos, viaja em seguida para a Venezuela e se apaixona por uma sobrinha de Bolívar. Viveu de aulas particulares freqüentando “El Parnazillo”, espécie de Academia de Letras da época.

Morre em 30 de Março de 1830, em Bogotá, afogado na enchente que invadiu a cidade em noite de tempestade.

Século e meio mais tarde, eu procurava na memória de suas vielas e becos, os passos de dois brasileiros que disputaram com Simón Bolívar, o amor da mesma mulher:

- A Liberdade.