Nênia de Orfeu, para Raul Paulo
Com as mãos sujas de treva, aqui cheguei
nas asas do cometa que ilumina
a falange dos anjos, no infinito.
Sou construtor de auroras e crepúsculo
banhado em sangue e lágrimas. Dei sons
de paz e amor à música da morte,
e fui ungido pelo mar: nas mãos
das ondas derramei minhas primeiras
agonias, meu riso, a minha espada,
e adormeci com os bêbados de luz,
no chão da noite. − Agora vou cantar
nênias a Orfeu, o sacerdote e mestre
que me ensinou chorar entre as estrelas,
ouvindo a voz de mares e de céus.