Apresentação da contra-capa livro: Sonetos

Esta é a quinta vez que tenho a oportunidade de falar sobre Paulo Bomfim. Ou tentar. O sentimento resultante é de inutilidade. E redundância. Ele fala por si, por nós, por todos os seres e coisas.

Uma vez me pareceu que o havia alcançado ao compará-lo a um guepardo disparado pelas savanas do infinito. Mas esse acerto riu da sua própria tolice. Quem alcançará um guepardo disparado do céu de sua própria beleza? Então me pareceu que ele seria antes um Pégaso capaz de nos acolher entre suas asas para transportar-nos a regiões onde se acha o mais belo e melhor de nós próprios. Ao passado que acreditamos perdido, ao presente que nos foge, ao futuro que não esperávamos alcançar.

Tudo isso são, porém, hipérboles desnecessárias. Assim, repito o que falei na quarta vez. Um poeta dispensa mestre-salas. Para se alcançar Paulo Bomfim basta mergulhar nos poemas que ele nos oferece. Nenhum poeta está mais próximo de nós, daquilo que temos de melhor e de mais belo. Ele é um biógrafo completo e erudito de nossas sensações, de nossas emoções, de nossos sentimentos, de nossos sonhos. Não são seus versos que nos falam, não é Bomfim que nos fala nos seus versos. Somos nós próprios que nos achamos em seus poemas. Levados pelo embalo feiticeiro de sua poesia, de repente somos arrebatados e convertidos em sósias de outros Paulos-Bomfins, os Paulos-Bomfins que não somos, mas que nos seus poemas nos encontramos realizados. Esse poder mimese que ele nos confere vem de que ele tem um coração universal.

Desisto, pela quinta vez. Por que interpor uma interpretação quando o original está a nosso alcance? O Príncipe de nossos poetas aguarda de braços e coração abertos seu encontro conosco. O guepardo com suas asas de Pégaso nos levará a uma volátil disparada pelo seu próprio infinito.

Benedicto Ferri de Barros
Quinta-feira, 2 de outubro de 2003

Bomfim, Paulo. Livro dos sonetos. São Paulo: El – Edições Inteligentes; Madri, ESP; Amaral Gurgel Editorial, 2006.