O Poeta aos 80
O poeta Paulo Bomfim chega aos 80 anos. Os cabelos mais brancos marcam a passagem do tempo que o espírito não sente, eterno, no galope do menino varando cafezais para chegar na mata encantada, eternamente preservada atrás do horizonte de lembranças da fazenda Himalaia.
Os olhos do Príncipe dos Poetas Brasileiros não envelhecem. E é comum vê-los sorrir ironicamente, num relâmpago especial, achando graça na seriedade do mundo − nas pessoas e nos ritos que se fazem de importantes, mas que ele sabe que não passam de sacos de vento.
Paulo Bomfim fica a cada dia mais completo, mais experiente, mais vivido e mais sábio, mas nunca conformado. O homem pacato que se for preciso não foge da guerra, o bandeirante que busca Eldorados nas distâncias da história, não aceita o conformismo, nem a falta de imaginação, nem a mediocridade que impera no mundo.
Suas armas neste combate são as palavras que ele trabalha em formas claras e diretas, para colocar nos livros de poesia, crônicas, história, lembranças − todos, gestos de carinho e profunda amizade.
Agora Paulo Bomfim publica quem sabe o mais paulista de seus livros de textos. “Janeiros de Meu São Paulo” é a crônica da entrega consciente do homem em holocausto a tudo que ele ama: sua terra, seus maiores, sua musa, seus descendentes, seus amigos.
Janeiros de Meu São Paulo é o desvendamento dos segredos que ao longo de 80 anos unem o poeta ao seu chão. 80 anos que forjaram uma estrutura de amor e de entrega. De falta de medo. Que criaram o espanto permanente diante dos mistérios do mundo. E a capacidade de aceitá-los. Que geraram poemas. Que deram vida à vida do homem, eternamente renascido no encanto descoberto em cada detalhe de seu texto. Em cada epopéia e em cada gesto. Nas trilhas antigas cobertas pelo mato. Nos Peabirus devassados pelos passos indômitos dos bandeirantes de todos os tempos, de onde seus antepassados arrancaram um país e o poeta um universo. Nos ossos deixados de propósito pelos caminhos, marcando os rumos para os que sem medo seguem depois.
Diariamente o poeta e eu comungamos os mesmos valores, o mesmo respeito ao passado, as mesmas crenças, as mesmas esperanças e o mesmo amor por São Paulo. Em nossa amizade, eu me descubro nele, passeando pelos janeiros de seus São Paulo e me comovo profundamente. Em Paulo Bomfim eu encontro o homem bom, o ser inconformado que sabe que há um mundo melhor e que vale a pena encontrá-lo.