Sonia Cintra - "Paulo Bomfim: 50 anos de Academia"

Paulo Bomfim nasceu em São Paulo dia 30 de setembro de 1926. Desde a infância recebeu dos pais, avós e tios influência para o pendor literário. O ambiente familiar foi fundamental à sua inclinação para as Letras. O pai, Simeão dos Santos Bomfim, era médico e intelectual; a mãe, Maria de Lourdes Lébeis Bomfim, além de tocar violão cantava muito bem. Dentre outros escritores, Vicente de Carvalho, Guilherme de Almeida e Mario de Andrade foram assíduos frequentadores dos saraus da casa dos genitores do Poeta, onde a pintora Tarsila do Amaral e as pianistas Guiomar Novaes e Magdalena Tagliaferro eram presenças constantes.

Estudou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco mas não quis terminar o curso jurídico. Preferiu o Jornalismo, profissão a que se dedicou com esmero e afinco. Sua estreia aconteceu no Correio Paulistano em 1945. A seguir foi para o Diário de São Paulo a convite de Assis Chateaubriand, onde escreveu durante dez anos Luz e Sombra, enquanto redigia Notas Paulistas para o Diário de Notícias do Rio de Janeiro. Foi diretor de Relações Públicas da Fundação Casper Líbero e um dos fundadores, com sua mulher Emma Gelfi Bomfim, da Galeria Atrium. Produziu Universidade na TV juntamente com Heraldo Barbuy e Oswald de Andrade Filho, entre outros programas de contexto cultural. Atualmente é assessor de relações públicas da presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo. Dentre os prêmios recebidos pela extensa e significativa obra, destaca-se o Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano 1981 da União Brasileira de Escritores (UBE). Em 2012 foi agraciado com o Colar do Mérito Judiciário em emocionante solenidade no TJSP.

Com seu livro inaugural "Antonio Triste", ilustrado por Tarsila do Amaral, recebe o Prêmio Olavo Bilac da ABL, em 1948. No artigo publicado no Diário de São Paulo (15.9.1946), Guilherme de Almeida clama Bomfim "o novo poeta mais profundamente significativo da nova cidade de São Paulo". Em 1951 vem à luz "Transfiguração", onde Paulo envereda por sonetos ao gosto clássico para descobrimento do mar secreto e das Índias interiores. No ano seguinte publica "Relógio de sol", no qual lida com a alquimia poética de herança simbolista, e lança suas primeiras cantigas, de linhagem trovadoresca, que seriam musicadas por Camargo Guarnieri, Dinorah de Carvalho, Oswaldo Lacerda e outros. Acerca do livro "Armorial" (1956), escreveu Cassiano Ricardo: "Paulo faz uma volta proustiana ao passado paulista". Passado que remonta a seus ancestrais, os bandeirantes, por quem o Poeta ergue a voz contra a distorção dos que aviltam a memória nacional, fazendo com que as novas gerações desconheçam seus feitos e bravuras. Em visita à Academia Jundiaiense de Letras, há poucos anos, ele reiterou: "um país sem memória é como uma árvore sem raízes: qualquer vento derruba".

Entre as obras mais recentes de Paulo Bomfim, "Cancioneiro" (2007), ilustrado por Adriane Florence e "Diário do anoitecer" (2012), são reveladoras de seu incansável lirismo. Na entrevista à Revista Tribuna das Letras, ele confessa gostar de "boa literatura" e considerar o soneto "o traje a rigor do pensamento", em concordância com aforismo de sua autoria "Só poeticamente conseguiremos explicar o mundo".

Este ano, ao Jubileu de Ouro de seu ingresso à Academia Paulista de Letras, o Príncipe dos Poetas Brasileiros tem sido homenageado de várias formas e por inúmeras pessoas. Decano da APL, ele foi afetuosamente saudado pelo Presidente Antonio Penteado Mendonça e seus confrades e confreiras, dentre eles, Renato Nalini e Anna Maria Martins, que têm suas histórias de família vinculadas às da ferrovia Santos-Jundiaí. E nos trilhos do coração, "esse comboio de cordas", como ensina Fernando Pessoa e passa por aqui, Paulo Bomfim é celebrado nos "Encontros Literários", no Centro de educação e lazer para a melhor idade (Celmi), do qual nos honra ser madrinha acadêmica, em momentos de rara beleza e sutil poesia. Obrigada, Poeta!