Palavras que Dr. Raul Cutait escreveu no dia do aniversário do poeta Paulo Bomfim, em 30 de setembro de 2014 no Tribunal de Justiça de SP.
Ao amigo Paulo
Conhecia-o apenas de nome e de poesias. Nosso primeiro contato foi você me mostrando a impressionante biblioteca de nossa querida Academia Paulista de Letras. Que privilégio ter sido guiado por você, que com um constante sorriso procurava me deixar à vontade naquele recinto sagrado que um dia eu também compartilharia! Ao longo destes anos, um profundo e sereno afeto me aproximou de você, estimulando-me, atento, a absorver suas falas e aprender com sua cultura e erudição. E, com esses sentimentos, digitei algo que me ocorreu enquanto na bela homenagem de aniversário no TJ todos se comportavam como verdadeiros súditos de um príncipe, o nosso príncipe.
Anatomia incompleta do Paulo
Paulo não passa despercebido, mesmo escondido por sua extrema discrição. Examino-o cuidadosamente, de cima para baixo, procurando desvendar alguns de seus segredos.
Encontro lá no alto os cabelos cheios, que nunca vi esvoaçar, pois estão sempre bem penteados, como convém a um nobre. Desço.
Visualizo logo abaixo um cérebro privilegiado, que acumula conhecimentos, que pensa, ordena suas mãos a escrever, com emoção e sabedoria. Desço.
Vejo então seus olhos, sempre brilhando, como convém a alguém que a outros ilumina. Desço.
Encontro, encoberto por seu paletó, o coração que, poeticamente, leva sua mensagem de alegria de vida a cada uma de suas células. Desço.
Um pouco mais abaixo, percebo escondido, seu estômago, que com frequência é acariciado junto com os de seus amigos pela comida que só a Lucia sabe fazer e servir. Desço.
Encanto-me com suas pernas mexendo-se com rapidez, levando o corpo ágil e de postura infantil para lá e para cá.
Paro e agora examino-o de baixo para cima e o que vejo é um ser pleno, que mesmo antes de existir já inspirava o Deus de todos nós.
RAUL CUTAIT