Agradecendo a homenagem recebida na Academia Paraense de Letras em 1996

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A MEUS IRMÃOS DO PARÁ

Chego a vós, toco as raízes,

E me abraço em vosso abraço,

E me espelho em vossos rostos,

E me hospedo em vosso amor.

O sonho vem cavalgando

Ao sabor das montarias,

Evocações vigilengas,

Oscilar de igarapés

Pássaro alma pousando

Nas gaiolas que se embalam

Entre redes de lembranças.

Os amigos que partiram,

Tão presentes neste encontro

Em que uma “Lua sonâmbula”

Evoca Bruno Menezes,

E as saudades vêm chegando

Nas “Asas”de Pinagé!

A brisa fala de Eneida,

Branda landa de “Aruanda”,

Indago ao Palácio Velho,

À Casa Azul do infinito,

Às águas de Guajará,

− E meu irmão Georgenor?

Percorro a praia do Outeiro

E vou de Chapéu Virado

Ao Mercado ver o Peso

Destas Saudades que trago,

Círio aceso que translado

De meu coração paulista

À Virgem de Nazaré!

Sinos do Carmo, Belém,

Santo Alexandre, Belém,

São João Batista, Belém,

Rosário reza, Belém.

Teatro da Paz dai-me paz.

E que meus olhos remocem

Nas janelas senhoriais

Do solar de Guajará,

E o coração se incendeie

E exploda em paixão à terra

Em pleno Largo da Pólvora!

(Cafezais de minha infância

Vêm visitar seus avós.)

Um pouco de mim ficou

Junto ao Forte do Castelo,

E o pensamento partiu

Com Pedro Teixeira e foi

Levar o Pará a Quito.

Do alto de vossos púlpitos

Padre Vieira inda prega!

O sangue da Cabanagem

Ilumina vossos passos

E Carlos Gomes termina

Cercado de vosso amor

A ópera de uma vida!

Vim de longe, vim de perto,

De meu planalto ancestral,

Do igarapé das memórias,

Do seringal das procuras,

Dos castanhais da amizade;

Brilham em mim vossos diamantes

E é de outro este momento

Em que a vida redondilha

Passa a ser o alexandrino

− Santa Maria de Belém do Grão Pará!