O Príncipe dos Poetas Brasileiros, decano da Academia Paulista de Letras, Paulo Lébeis Bomfim, disse que no sábado, 29 de setembro de 2012, havia recebido seu maior presente de aniversário.
A caminho da Biblioteca Monteiro Lobato, na Rua General Jardim 458, Consolação, em São Paulo, para um Seminário organizado pela editora COSAC NAIFY, sobre Carlos Magalhães Lébeis, irmão de sua mãe, Paulo Bomfim passa decarro em frente ao Cemitério da Consolação e joga um beijo para seu Tio. No trajeto desce a Rua Rego Freitas, ruada sua infância e diz que no nº 56 era a casa de seus avôs, ouvindo os sinos da Igreja da Consolação, recorda que foiali batizado.
Segundo palavras do poeta: “Um sábado de luz – Mágico. Carregados de coincidências”.
Como se não bastasse, a Biblioteca Monteiro Lobato fazia parte da sua infância, pois lá nasceu seu primeiro poema,“Caminheiros das sombras” e o Jornalzinho “A VOZ DA INFÂNCIA”.
Responsável por reavivar a memória de seu Tio Carlos Magalhães Lébeis, que faleceu dia 20 de abril de 1940, trêsmeses antes de completar quarenta anos, Paulo Bomfim fechou contrato em 2011 com a editora COSAC NAIFY, parapublicação da trilogia de livros infanto-juvenil escritos por seu Tio na década de 30. O Título CAFUNDÓ DA INFÂNCIA,livro inédito de Carlos Lébeis com ilustrações da “Mãe do Modernismo Brasileiro”, Anita Malfatti, foi o primeiro a serlançado pela editora em novembro de 2011.
Segundo a COSAC NAIFY, Uma obra rara. No livro há a mesma inquietação que vemos em Monteiro Lobato –contemporâneo e amigo de Lébeis –, um ideal de literatura moderna para crianças. Datado de 1936, trata, também, de algo bastante atual: a preservação do meio ambiente.
A reedição do primeiro livro publicado em vida por Carlos Lébeis em março de 2012, NO PAÍS DOS QUADRATINS, dásequência a um resgate histórico da literatura infanto-juvenil brasileira pela COSAC NAIFY. Na história, João Papinholeva uma ferroada de uma vespa na orelha e decide se vingar, mas acaba sendo arremessado para o temível país dosquadratins. Os habitantes quadrados são violentos e perigosos e o fazem prisioneiro. Uma valente libélula convoca oexército dos pindobinhas, moradores do reino de Pindoborama, e instaura-se uma verdadeira guerra para a libertaçãodo menino.
Com sua prosa divertida e bem-humorada, Lébeis nos conduz por uma aventura emocionante que aborda questõescomo a paz e a relação do homem com a natureza. Os desenhos são de Candido Portinari, uma das maioresreferências da arte brasileira no plano internacional.
O terceiro livro que fecha a trilogia do “Tio Carlos”, com o título: “A CHACARA DA RUA UM” será reeditado em 2013.
No Seminário Paulo Bomfim fala sobre o Tio Carlos Lébeis, homem extraordinário que plantou no sobrinho a sementeda poesia. Advogado, foi fundador do Instituto de Direito Social, que hoje tem o nome de Instituto Brasileiro deDireito Social Cesarino Júnior e ajudou a criar o Serviço Social voltado principalmente a proteger os menoresdesassistidos.
Em homenagem a Carlos Magalhaes Lébeis, Paulo Bomfim lê uma poesia do Tio:
INICIAÇÃO
Agora que as acácias estão florindo
E as cigarras cantam nas tardes tostadas de sol
Podes ir para o amor que o amor te espera!
Ouve; Não sentes o ritmo do sangue da primavera
Pulsando no seio da terra amorosa?
Não vê como o vento acaricia
Com mãos de seda os cachos de ouro das acácias?
Não ouve o trêmulo dos pássaros sonorizando as frondes?
Não sentes que as cigarras estalam ao sol?
Esse sol vem de ti!
A música que ressoa em teus ouvidos
Brota, em milagre, de tua alma,
Da força em ascensão de tua mocidade,
Do viço de teu corpo de vergôntea!
Há sinos bimbalhando em teu coração que desperta!
Repara
Como as abelhas zumbem dentro dos lírios polidos,
Como o mundo entra pelos teus olhos adentro
Pelos teus olhos abertos ao mistério da vida
E como acorda os teus sentidos ávidos!
Olha! Em torno de ti tudo é deslumbramento!
O mundo vai nascendo e tu conduzes o sol do mundo
Porque es o sol da vida!
É tua a primavera,
Tu é que arrastas o manto florido
E rompes as ânforas cheirosas!
Goza-a! Coroa-te de avencas e rosas e canta!
E vai confiante e alegre, mocidade,
Para o amor que te espera
Finalizando sua fala, o poeta Paulo Bomfim diz que para encerrar um sábado com “boas coincidências” iria ler umacarta que recebeu de seu “Tio Carlos” exatamente a 81 anos, quando completaria no dia seguinte, cinco anos deidade.
Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1931.
Meu adorado Paulinho.
Pelo dia grande de amanhã Titio Carlos lhe manda muitos beijos e pede ao Papai do Céu que o proteja sempre.Estou escrevendo um livro que será seu, é uma história que imaginei quando era do seu tamanho e que estouescrevendo numa idade em que não se admitem as travessuras. Um dia você há de saber o tamanho do sonho de Peter-Pan que queria ser toda a vida do tamanho de Paulinho. E nesse dia também você há de dar razão ao TitioCarlos que tendo tanta coisa séria para pensar prefere voltar ao que já foi um dia. Se fosse possível pediria ao Papaido Céu que lhe desse o milagre de Peter-Pan!
Esse Titio Carlos é bobo!... É bobo sim; é bobo por você.
Emocionado pelo sábado de boas lembranças, Paulo Bomfim, no retorno para casa, compra flores para levar ao túmulodo “Tio Carlos”. No caminho vai retirando porções de flores e distribuindo nos túmulos dos amigos Altino Arantes,Monteiro Lobato, Olivia Guedes Penteado e tantos outros.
Encontra o administrador do Cemitério, “Popo”, seu amigo de sempre que conhece os endereços da morada eternade todas as personalidades. Num encontro emocionado, “Popo” diz ao poeta que aos 40 anos não se lembra de terdado um abraço no pai, pois o perdera muito cedo e sempre que abraçava Paulo Bomfim, sentia por ele o amor depai.
E assim abraçados fazem um tour pelo cemitério recordando as histórias e visitando os amigos.
E o poeta indo para casa, repete: Um sábado feliz – Mágico!